Um olhar para quem cuida!
- Gabriela Fagundes
- 29 de abr.
- 2 min de leitura
Hoje foi um daqueles dias em que a gente volta pra casa com o coração apertado e a cabeça cheia de pensamentos…
Participei de uma reunião na Defensoria Pública de Santa Catarina para discutir políticas públicas voltadas às pessoas no espectro autista. E entre tantas pautas importantes, uma em especial me atravessou: a saúde mental das mães, das famílias, dos cuidadores — que, em sua maioria esmagadora, são mulheres. Mães. E, muitas vezes, mães solo.
É pesado. Ser mãe atípica já é uma jornada intensa por si só. Agora imagina ser mãe, cuidadora, terapeuta improvisada, provedora da casa e ainda tentar manter a sanidade mental? São cerca de 11 milhões de mães solo no Brasil, e 86% delas são mães atípicas. É um número que grita. E ainda assim, pouco se olha pra elas.
Lutamos — e vamos seguir lutando — por políticas públicas para os nossos filhos. Por escola inclusiva com monitor de referência, por terapias acessíveis, por atendimento médico digno. Mas é impossível ignorar que, muitas vezes, as mães que lutam todos os dias são justamente as que estão sendo deixadas de lado. Porque ninguém luta em paz quando está esgotada. Quando está sozinha.
Durante a reunião, ouvimos o relato devastador de uma mãe atípica que tirou a própria vida. Ela deixou dois filhos com autismo sozinhos em casa. Dias depois, foram encontrados se alimentando de restos de comida. Junto com o corpo da mãe, uma carta: “sorria para as pessoas, você não sabe o que ela está passando, hoje eu precisava que uma pessoa tivesse sorrido para mim”.
É doloroso. É revoltante. Mas, infelizmente, não é um caso isolado.
Uma mãe só consegue cuidar se ela também for cuidada.
E para que uma mãe esteja bem, ela precisa que os direitos do filho dela — e os dela também — sejam cumpridos. Porque a luta pela inclusão e dignidade começa pela estrutura, e mães não sobrevivem só de amor. Elas precisam de suporte, de políticas públicas, de empatia real.
E tudo isso começa também por nós.
Pelo jeito como olhamos para o outro.
Pelo julgamento silencioso (ou nem tanto) que machuca nossos filhos em lugares públicos.
Pelo incômodo com o diferente.
Pela ausência de empatia.
A sociedade precisa estar preparada. Porque os números não param de crescer.
Hoje, já são 1 a cada 31 crianças no espectro autista.
A inclusão precisa deixar de ser um discurso bonito e virar prática. Realidade. Caminho possível.
Diante de tudo isso, só consigo me emocionar e agradecer a Deus por tudo que temos. O quanto sou privilegiada. O quanto Ele é bom com a gente. O Gui tem acesso a médicos e terapias de qualidade. Eu tenho o privilégio de trabalhar de casa e estar presente em cada passo que ele dá.
E mais que isso: tenho um parceiro de vida que se entrega de verdade. Que leva na escola, vai pra terapia, consulta, que brinca, que passeia, que está sempre ao nosso lado — buscando o melhor por nós.
Seguimos por nós, pelo Gui, e por todas as mães que hoje não têm escolha a não ser ser tudo, o tempo todo.
Que a nossa luta não seja solitária.
Que o cuidado comece por quem cuida.
E que a empatia comece agora, em cada um de nós. 💙
Comments