Ser Mulher Neurodivergente e Mãe Atípica: Entre Desafios e Resistência
- Amanda Verônica
- 8 de mar.
- 2 min de leitura
Ser mulher já é, por si só, uma experiência atravessada por expectativas, cobranças e desafios que muitas vezes nos sobrecarregam. Quando se é neurodivergente, essas pressões se multiplicam, e ao nos tornarmos mães atípicas, elas atingem um nível que a sociedade sequer se dá ao trabalho de compreender.
Sou mulher, neurodivergente e mãe de uma criança autista. Minha vivência não cabe nos discursos romantizados sobre maternidade e nem nas narrativas capacitistas que reduzem a neurodivergência a uma questão de esforço ou superação individual. Vivo entre o cansaço e a necessidade constante de lutar por acessibilidade, inclusão e respeito – para meu filho, para mim e para tantas outras mães e crianças que enfrentam o mesmo sistema excludente.
A neurodivergência, para mim, não é um diagnóstico que me limita, mas uma forma de perceber o mundo de maneira única. No entanto, isso não significa que o mundo esteja pronto para acolher essa forma de existência. A exigência por produtividade, a dificuldade em lidar com rotinas rígidas e a sobrecarga emocional são desafios diários. Ainda mais quando se é mãe e se espera que estejamos sempre disponíveis, reguladas e capazes de atender todas as demandas com um sorriso no rosto.
Mas e quando somos nós que precisamos de apoio? A sociedade pouco fala sobre as mães neurodivergentes que também precisam de adaptações, de compreensão, de espaço para serem imperfeitas sem o peso da culpa esmagadora. Como mulher e mãe atípica, aprendi que o conceito de “dar conta de tudo” é uma armadilha, e que reconhecer nossos limites não é fraqueza – é sobrevivência.
Minha maternidade é feita de aprendizado constante, de estratégias que fogem do padrão e de uma luta que não escolhi, mas que assumo com a responsabilidade de quem quer deixar um mundo menos hostil para as próximas gerações. Defendo práticas baseadas em evidências, porque acredito que nossos filhos merecem apoio real, não discursos vazios ou soluções mágicas. Acredito na inclusão escolar de verdade, que respeite as necessidades das crianças, sem forçá-las a se encaixar em moldes que não foram feitos para elas.
Ser uma mãe neurodivergente é entender, na pele, o que significa não se encaixar. E, ao mesmo tempo, é encontrar formas de resistir, de criar redes de apoio e de transformar essa experiência em força para mudar a realidade. Porque nenhuma de nós deveria enfrentar essa jornada sozinha.

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