Além das aparências, autocuidado para mulheres reais!
- Marielle Lima
- 11 de mar.
- 5 min de leitura
Queridas mães, falo com vocês no lugar de mulher, profissional e mãe solo de duas meninas autistas. Sintam-se acolhidas.
Meu propósito é que vocês reflitam sobre pontos fundamentais do que é autocuidado e que muitas vezes não consideramos.
Eu não tenho uma fórmula mágica e também não vou deixar para vocês uma lista enorme de coisas para fazerem, pois a realidade de cada uma, só vocês sabem.
Meu convite é para que dentro da realidade de cada uma, vocês possam existir também, pois vocês são muito importantes.
Quando chega um filho, a vida inteira muda, adequamos a nossa realidade para cuidar daquele bebê, e isso já exige muito de nós.
Quando o diagnóstico de autismo chega, a sensação é que perdemos o chão. Para onde ir? Para onde olhar? Não sabemos mais nada do futuro. Onde ficam nossos sonhos?
Ficamos sem estrutura emocional para lidar com todas as mudanças da rotina, incluir em terapias, começam brigas entre o casal, os parentes e amigos que não entendem e opinam em tudo, em muitos casos a mulher precisa lidar com traição, divórcio e nisso tudo, literalmente, a mulher é engolida pela maternidade atípica e tudo o que vem junto dela.
Eu sei que muitas vezes parece não existir mais tempo e nem saída, a única coisa que cabe em nós é cuidar dos nossos filhos, tudo gira em torno deles.
Mas eu falo com a propriedade de mãe solo de duas meninas autistas, nós precisamos caber em nós e na nossa rotina, justamente para poder cuidar com mais qualidade.
Uma mãe estressada tem menor tolerância para lidar com as crises, uma mãe que não dorme não vai conseguir perceber as necessidades emocionais do filho, falta presença no corpo, uma mãe que não se cuida não consegue viver na integridade, reprime suas emoções e adoece.
Uma mãe que adoece não consegue cuidar bem dos seus filhos.
Cuidar de si vai muito além de realizar procedimentos estéticos, cuidar de si em primeiro lugar é trabalhar a aceitação da sua nova versão como mulher e agora mãe, aceitar o diagnóstico e viver as fases do luto sobre a idealização que você tinha da maternidade, sem se cobrar tanto.
Aceitar a realidade como ela é faz parte do autocuidado, somente assim você vai conseguir criar novas estratégias para a sua vida.
Aceitação não é conformismo, nem passividade, aceitação é poder seguir em frente sem resistências, a resistência gera dor, a aceitação ajuda a encontrar soluções para os problemas.
Não podemos controlar o que nos acontece na vida, mas podemos controlar como reagimos ao que nos acontece, um bom terapeuta pode ajudar você neste processo, acompanhamento psicológico é fundamental.
Reconhecer o que você faz, se valorizar, ser mais gentil consigo mesma, tenho certeza que você faz muito, se dedica, cuida e acerta na maioria das vezes, mas a mente negativa faz com que você olhe para o que falta, os erros, os defeitos. Não deixe sua própria mente ser a sua maior inimiga.
Gosto muito do conceito psicanalítico de mãe suficientemente boa, proposto por Donald Winnicott. Este conceito se refere a uma mãe presente, que atende as necessidades do filho, que erra e que corrige seus erros, que aprende no processo de se relacionar, é uma mãe que não precisa ser perfeita como a sociedade espera, mas que se torna suficientemente boa justamente porque se perdoa e entende a importância do autocuidado emocional.
Ser rígida consigo só traz sofrimento, cria altas expectativas e muita frustração por não alcançar o ideal criado pela sua mente.
Outra estratégia de autocuidado é delegar funções, perceba dentro da sua realidade o que você pode delegar, quais tarefas da casa podem ser distribuídas para outros membros da família? É possível contratar uma colaboradora? Alguém pode fazer as compras no mercado? Ou levar as crianças na terapia algumas vezes?
Peça ajuda e aceite ajuda, não queira dar conta de tudo ao mesmo tempo, isso só aumenta a sua ansiedade, solte a mulher controladora que existe em você, ninguém consegue dar conta de tudo e está tudo bem.
Pequenos ajustes na rotina semanal podem fazer a diferença, por exemplo, cozinhar para a semana, ter as comidas prontas e congeladas, pode ser muito mais prático no seu dia a dia e fará com que você tenha mais tempo para si.
A rede de apoio é fundamental, pode ser membros da família, amigos ou mesmo pessoas contratadas, creche ou escola, o importante é organizar a rotina de cuidados dos filhos junto com a mulher que você é, você precisa se incluir na agenda semanal, você precisa existir no meio de todos esses compromissos.
Priorizar espaços de tempo para você é muito importante. Do que você gosta? Ler? Dançar? Academia? Aprender algo novo? Massagem? Meditação? Espiritualidade? Ou mesmo dormir? Banho mais demorado? Escalda pés? Ficar em silêncio admirando a natureza? Sair com as amigas? Só você saberá o que lhe faz bem, o importante é que você não esqueça de cuidar da mulher que você é, pois é essa mulher que sustenta a mãe que você quer ser.
Aprenda a colocar limites, se conheça melhor, cultive a espiritualidade, seja sincera consigo, tenha fé, desapegue, se retire de lugares e se afaste de pessoas se for necessário. Se cuide e se preserve.
Para as casadas, tenham momentos de diálogo sincero com o marido, falem sobre suas necessidades, como se sentem diante da realidade, não tenham medo de se mostrar vulneráveis, é muito importante que exista confiança, acolhimento e colaboração de ambos para que a relação possa fluir e ser uma base de segurança familiar, se isso não for possível, este é um alerta que sua relação não está bem, busquem ajuda profissional se for o caso.
Escute o seu corpo. Aprenda a se conectar com ele, respire e se pergunte: O que eu preciso? O que eu quero? O que é melhor para mim neste momento? Essa dor ou desconforto está querendo me mostrar o que? Quais limites estou ultrapassando? Seu corpo é sábio e trará respostas.
Outro ponto sobre autocuidado é a vida financeira, não há como viver sem dinheiro, mesmo que hoje você seja dona de casa, dependente financeira do marido ou receba algum benefício, é fundamental garantir um valor reserva para momentos de emergência, crie alguma estratégia para que você não fique desamparada, caso aconteça um divórcio, por exemplo.
Em tempos de crise não podemos contar com a boa vontade do outro, que antes, era o pilar financeiro, só quem já ficou sem dinheiro até para comer, sabe o quanto é desafiador e fator determinante para um desequilíbrio emocional, ainda mais quando temos os filhos que dependem de nós. Acreditem, não sejam negligentes com esse pilar da vida.
Deu pra perceber que autocuidado vai muito além de fazer a unha ou uma escova no cabelo, isso faz parte e é ótimo também, inclusive façam, cuidem da sua aparência, faz parte da conexão e relacionamento consigo mesmas.
Mas...
Autocuidado é sobre aceitar sua história de vida, aceitar quem você é, com a parte positiva e com todas as imperfeições e enxergar na vulnerabilidade a força para crescer.
Autocuidado está ligado a autoestima e ao conjunto de hábitos que impactam diretamente nos resultados da nossa vida.
Autocuidado é sobre autoconhecimento, auto responsabilidade e mentalidade, é ser mais gentil consigo mesma, é aprender a ser sua melhor amiga, pois no fundo, é sempre sobre você com você.
A maternidade não precisa sufocar a mulher que você é, cheia de vida e sonhos.
Cuidar de si é um ato de merecimento e você merece ser feliz.

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