Onde está a mãe antes do diagnóstico?
- Bárbara Puerari
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de mar.
Sou psicóloga, trabalho com orientação parental e supervisão ABA, e, em diversos momentos, escuto mães falando sobre o quanto é difícil ser mãe dentro do diagnóstico.
Elas se sentem cobradas pelos terapeutas, desrespeitadas socialmente quando o filho entra em crise na rua, e, mesmo com identificações como os cordões de acessibilidade, ainda não se sentem acolhidas para falar sobre seus sentimentos. Muitas relatam que, diante do mundo, são mães de crianças com diagnóstico antes de serem apenas mães.
E como é difícil ser apenas mãe. Descobrir o diagnóstico de um filho atípico pode ser um momento de virada na vida de qualquer mãe. De repente, a rotina se transforma em consultas, relatórios, exercícios e orientações de especialistas.

A necessidade de ajudar no desenvolvimento do filho faz com que muitas mães mergulhem de cabeça no papel de terapeutas, buscando aplicar cada estratégia ensinada, cada dica recebida, cada protocolo indicado. Mas onde fica a maternidade no meio disso tudo? Onde fica a mãe que apenas acolhe, que dá colo, que ri junto, que simplesmente é mãe?
A casa da criança não é uma clínica. O lar é um espaço de aconchego, segurança e amor. E a mãe não é a terapeuta do filho. Ela pode, sim, apoiar, incentivar e incluir aprendizados no dia a dia, mas sem se perder de si mesma e sem transformar a relação com o filho em um eterno treinamento ou atendimento. Quando uma mãe se coloca apenas como terapeuta, existe um risco grande de ela se esquecer de si mesma. Esquecer que, antes de qualquer coisa, é um ser humano com necessidades, desejos e limites. E também esquecer que seu filho também precisa de uma mãe que o olhe para além do diagnóstico, que veja a criança ou adolescente na sua totalidade, sem reduzi-lo a um conjunto de desafios ou metas terapêuticas.
Dar limites, apresentar o mundo, acolher emoções e permitir espaços de respiro são funções essenciais da mãe. O amor não está apenas na dedicação intensa às terapias, mas também no momento de simplesmente estar junto, sem cobranças. Você não precisa ser terapeuta o tempo todo. Seu filho precisa de você como mãe. E você também precisa de você. Encontrar esse equilíbrio é um desafio, mas é também um passo essencial para uma maternidade mais leve, mais saudável e mais feliz.
O acompanhamento do filho é essencial, e ouvir os profissionais pode trazer muitas ferramentas valiosas para a evolução da criança. Mas isso não significa que tudo precise ser transformado ou que a mãe precise se tornar diversos profissionais. O mais importante é construir um ambiente familiar unido, onde todos participam e contribuem, oferecendo amor, apoio e segurança.
Afinal, a família é a base para o crescimento e desenvolvimento do filho, e não há melhor caminho do que seguir juntos, com leveza e acolhimento. E, acima de tudo, a mãe ou responsável também precisa priorizar a própria saúde mental.
Cuidar de si não é egoísmo, é necessidade. Buscar apoio, ter momentos de descanso, respeitar os próprios limites e ter espaço para sentir e viver suas próprias emoções são atitudes essenciais para que essa jornada seja mais leve e equilibrada.
Afinal, uma mãe que se cuida também ensina ao filho o valor do autocuidado e da felicidade.
E mais importante de tudo: uma mãe precisa se permitir ser mãe, e um filho precisa ser visto também como apenas um filho, antes de qualquer diagnóstico

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